segunda-feira, 27 de abril de 2009

M – Matou

Fritz Lang, aclamado realizador alemão, foi, provavelmente, um dos maiores génios do cinema, sendo por isso difícil afirmar qual foi a sua verdadeira obra-prima.
Mesmo não sendo, unanimemente, considerada a obra de excelência de Fritz Lang, Matou é um filme incontornável, de importante relevo quer no quadro da cinematografia de Lang, quer dentro da própria história do cinema, sendo um dos mais conhecidos símbolos do Expressionismo Alemão.
Este é o primeiro filme sonoro de Lang e, possivelmente, o primeiro da história do cinema em que o som tem tão destacada importância para o desenrolar da obra.
Matou conta-nos a história de um assassino de crianças, Beckert que aterroriza e mantém em constante sobressalto os habitantes da pequena cidade de Dusseldorf.
A polícia, tal como é seu dever, inicia a investigação dos crimes, destacando para isso a emblemática figura do inspector Lohmann. No entanto, as investigações não conseguem alcançar o desfecho ambicionado: mais crimes acontecem e a já amedrontada população adopta uma desproporcionada atitude de desconfiança perante tudo e todos.
Persistente e incansável, o inspector Lohmann reforça as investigações, embrenhando-se nas obscuras e corruptas entranhas da cidade.

Esta atitude desagrada a todos os que vivendo à margem da lei, se sentem lesados por estas investigações, que os privam da sua fonte de sustento. Decididos a apanhar o assassino e a restabelecer a normalidade, os criminosos reúnem-se, mobilizam os meios necessários e dão início às suas investigações. Através da aliança que estabelecem com o sindicato dos mendigos, conseguem montar uma eficaz rede de vigilância que lhes permite controlar toda a cidade.
Por todo o lado se multiplicam os olhares atentos a qualquer suspeita, qualquer sinal, qualquer pista que pudesse permitir a identificação do assassino. Contudo este acaba por ser descoberto por alguém que não podia ver esses sinais que todos os outros tanto procuravam. Beckert, é esse o nome do infanticida, é descoberto por um mendigo, cego, que não tendo outra forma de ver o mundo sem ser através dos sons, reconhece a melodia obsessivamente assobiada pelo assassino, quando se preparava para executar mais um crime, e o denuncia aos seus companheiros.
Começa então a implacável perseguição a Beckert que culmina na sua detenção por parte dos criminosos. Estes concedem-lhe um simulacro de julgamento, providenciam-lhe um advogado de defesa, que não impede que lhe seja atribuída a aplicação da pena máxima, da qual Beckert só é salvo pela repentina chegada da polícia.
No seu julgamento oficial, Beckert acaba por ser considerado um doente, um louco e escapa por isso à pena máxima. A mensagem final de Lang é clara – “protejam os vossos filhos”, e protejam-se a vós próprios, poderíamos acrescentar. Protejam-se do mal que existe e do mal que se pode abater sobre vós, da forma mais absurda e irracional, porque quando ele chega ninguém escapa, especialmente porque quando é trazido pela loucura, torna-se incontrolável.

Esta loucura do homem é um tema recorrente em Lang, estando também expressa de forma exacerbada na trilogia do Dr. Mabuse - Dr. Mabuse, O jogador de 1922, O testamento do Dr. Mabuse, de 1933, Os mil olhos do Dr. Mabuse, a sua obta terminal - que nos tenta alertar para o poder imprevisível da loucura, para a forma como transfigura o homem e o incapacita, impedindo-o de ter consciência ou controlar as suas próprias acções.
O discurso final de Beckert sobre esse poder da loucura é impressionante e transmite claramente a ideia de Lang. Mas, este discurso foca ainda um outro factor muito importante, o medo: Beckert tem mais medo de si do que dos outros, e enquanto conserva este medo irracional, aumenta a ténue linha que o separa da loucura.
Esta associação entre loucura e medo faz com que o filme seja muitas vezes referenciado como um aviso do perigo nazi, de tal forma que o título original “Os assassinos estão entre nós” foi retirado, por receio das reacções do partido nazi.
De facto, os ideais nazis são, muito provavelmente, a expressão máxima da influência da loucura na mente humana, e o medo seria uma boa forma de construir uma barreira isolante capaz de nos proteger deles.

Patrícia Abreu 11º4