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quinta-feira, 15 de abril de 2010

O paradoxo da pobreza e da exclusão social versus o grande desenvolvimento científico


A pobreza é uma realidade. Ninguém que se considere consciente o pode ignorar. No entanto, para muitos, isto representa uma profunda contradição dado que o mundo actual goza não só de um considerável nível de riqueza como é tecnologicamente mais evoluído. Na verdade, o real valor da tecnologia é, em termos económicos, reduzir o custo necessário para produzir algo (comida, mecânica, etc.) que por sua vez gera riqueza. Isto significa que quanto maior a capacidade tecnológica, maior a riqueza. Um exemplo especialmente flagrante é a comparação entre países ditos desenvolvidos e países ditos subdesenvolvidos, em que a população dos países subdesenvolvidos (com a excepção dos países produtores de petróleo) é mais pobre, se bem que a existência de pobreza em países desenvolvidos seja mais difícil de explicar.
De acordo com John Rawls o mundo mais justo é o mundo em que a pobreza é mais escassa. Para o atingir, existem essencialmente duas vertentes: o equilíbrio de riqueza entre os cidadãos de um país e a quantidade de riqueza total de um país. A maximização destes dois conceitos corresponde em termos políticos, de uma forma grosseira, respectivamente ao comunismo e ao capitalismo. O problema é que nenhuma vertente é superior à outra, pois um grande equilíbrio de riqueza entre cidadãos pode significar que todos são pobres, e uma grande quantidade de riqueza pode significar que uns são muito pobres. Em suma o problema de pobreza é mais complexo do que possa parecer, e à primeira vista o desenvolvimento científico ou tecnológico não é responsável pela existência ou não existência de pobreza, pois só afecta a quantidade de riqueza. Mas a ciência não é assim tão isenta.

O mundo da ciência é, para muitos, estranho. De facto, os únicos que o entendem realmente são os cientistas, mas pode ser entendido como um modelo de funcionamento do mundo conhecido. A noção de cientismo, i.e. de que a ciência vai responder a tudo, é até um (ultrapassado) conceito filosófico, o que não deixa de ser irónico. O objectivo da ciência é o de aumentar o conhecimento a partir do conhecimento existente, de expandir o mundo conhecido. É a abordagem que mais produz resultados práticos, que gera mais riqueza e cujo critério de validade é mais sofisticado, tendo base tanto em experimentação (observação controlada) e em teoria (lógica). Por outro lado, isto torna a ciência em algo que vale por si, que por natureza é independente de valores morais ou vontades. Mas quem usa a ciência é o Homem, e o Homem é tanto capaz de actos bondosos como de terríveis crimes. E a ciência, sob a forma de tecnologia, amplia muito o poder do Homem. Mas, passará a solução por restringir a investigação em certas áreas do saber?
Joseph Mengele, por exemplo, foi um indivíduo que durante a 2ºGuerra Mundial, conduziu experiências em prisioneiros de campos de concentração que podem ser melhor descritas como tortura minuciosamente registada. Será legítimo usar os dados obtidos para fins médicos, sabendo a proveniência destes dados?
O problema anterior é controverso, mas existe outro problema que provavelmente nos interessará mais: o sistema de patentes. Hoje em dia, para produzir algo industrialmente é necessário uma patente. Este conceito ocidental visa recompensar a investigação e invenção, seja através da criação de uma empresa para vender as aplicações, seja através da venda da patente (autorização exclusiva de produção) a uma empresa interessada. No entanto, isto não só implica que alguma tecnologia potencialmente benéfica não seja acessível a grande parte da população, como também incentiva ao egoísmo que é o ter por objectivo maximizar o rendimento obtido. E podemos, não, devemos resolver este problema o mais rapidamente possível a fim de evitar a exploração de muitos por outros, o que desequilibra a distribuição de riqueza e que, por sua vez potencia a divisão e exclusão social.
Poder-se-iam minimizar estes problemas, procedendo da seguinte forma:
1. Rescindir o estatuto de exclusividade da patente, se bem que naturalmente quem a não possui deve pagar um valor a estipular para o possuidor da patente para produzir, de forma a recompensar a investigação mas também a generalizar (e possivelmente, devido à lógica de mercado, recompensar mais generosamente).
2. Reduzir o número de escalas da hierarquia empresarial, de forma a distribuir mais equitativamente a riqueza, sendo que esta medida também requer um ensino obrigatório mais exigente.
3. Reorganizar a estrutura empresarial de forma que existam empresas especializadas em produção e empresas especializadas em investigação, sendo que esta medida depende da aceitação da primeira para ser verdadeiramente eficaz. Luís Gonçalo Simões 11º 5

quinta-feira, 18 de março de 2010

2010 – ANO EUROPEU DA LUTA CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL


O “terceiro mundo” é formado pela maioria dos países de África, América Central, América do Sul e Ásia. Caracterizam-se por uma falta de recursos económicos, que se traduz numa baixa esperança de vida e numa taxa de mortalidade infantil muito elevada, acrescidas de uma grande carência a nível dos serviços básicos, como escolas, hospitais, habitação e água potável. Outro factor que influencia esta situação crítica são as condições naturais adversas que provocam inundações, terramotos, secas, etc. No entanto, as principais causas desta situação trágica são sociais, políticas e económicas.
Assim, a sobrevivência das pessoas destes países depende muito da solidariedade internacional, que chega em forma de apoio monetário, militar, alimentar.
De facto, os problemas do “terceiro mundo”, estão no centro das preocupações dos países mais desenvolvidos. Prova disso é o sentido que têm tomado a ciência e a tecnologia, surgindo como exemplo os alimentos transgénicos.
Estes, aparte algumas polémicas associadas à sua criação, têm maior resistência a pragas, um tempo de produção bastante inferior e também uma durabilidade de conservação superior à dos alimentos não manipulados. Emergem assim como uma solução, sobretudo para as populações mais pobres, nomeadamente onde há escassez alimentar e além disso poderiam funcionar como uma fonte de crescimento social, incrementando a economia local.
Contudo, maioritariamente, os governantes, dos referidos países, são ditadores e portanto este tipo de solução não os atrai. Dito de outro modo, enquanto o povo continuar preocupado com o assegurar as suas necessidades mais básicas, não se ocupam com outros problemas como o acesso à educação e à cultura e não crescendo nestas áreas, não têm autoridade intelectual que os levem a questionar o domínio e a subjugação a que são submetidos pelos governantes.
Pessoalmente, penso que o fornecimento directo de alimentos não lhes resolve a situação, mas o incentivo à produção de transgénicos poderia ajudar estas populações a resolver os seus problemas, pelo menos os mais imediatos, pois como diz o povo: “não lhes dês peixes ensina-os a pescar”.
Maria Patrício, 11º6

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

2010 - Ano Europeu da Pobreza e da Exclusão Social





À existência, em simultâneo, de uma grande cultura científico-tecnológica e de cinco sextos da população mundial a viver em péssimas condições não se chama paradoxo, mas sim infeliz consequência do poder enorme que o dinheiro exerce na nossa vida em sociedade.
Temos automóveis, aeronaves e comboios, excelentes meios de transporte que nos permitem fazer quilómetros num curto espaço de tempo relativamente à velocidade com que caminhamos, que nos permitem ver o mundo, explorar novas culturas e que, por isso, literalmente, nos transportam para novas realidades. Podemos todos usufruir destas maravilhosas máquinas da tecnologia? Não! E porquê? É necessário capital para o fazer e milhões não o têm.
Temos televisões, telemóveis e internet, os meios modernos e eficazes de comunicação. Graças a estes meios podemos manter o conhecimento e a visão que temos do mundo minimamente actualizados, podemos manter um contacto permanente com as outras pessoas, importante para o ser sociável que nós somos. Podemos todos usufruir destas maravilhosas invenções da física? Não! E porquê? É necessário capital para o fazer e novamente, milhões não o têm.
Já desenvolvemos fantásticos meios de irrigação e já conseguimos fazer a “reciclagem da água”. Podemos todos usufruir de água potável? Não! E porquê? Novamente, porque é indispensável o dinheiro para pagar a sobrevivência.
Temos a capacidade de manipular geneticamente certos alimentos de maneira a poder fazer com que alguns deles sejam capazes de sobreviver em condições extremas. Fazemos isto? Não! Porque o único interesse que há em manipular alimentos, é em faze-los mais bonitos e faze-los viver mais tempo nas prateleiras de todas as grandes superfícies comerciais.
Temos a capacidade de unir a arquitectura à tecnologia, de construir prédios tão altos em zonas áridas e ventosas que graças à sua forma conseguem ser aerodinâmicos de maneira a nem sequer vibrarem, como é o caso da torre construída no Dubai, a nova torre onde os apartamentos são os mais caros do mundo, onde vai haver um casino, onde vai haver apartamentos destinados a serem escritórios e não ao alojamento. E será que não temos a capacidade de construir casas minimamente acolhedoras para todos os sem-abrigo e desalojados?
Temos livros, computadores e outros materiais que trazem conhecimento, mas mesmo assim, voltamos a privar grande parte da humanidade destes. Faz sentido que nós, seres inteligentes e sempre em busca da verdade e do conhecimento, possamos atribuir um preço a isso? É que os índices de analfabetismo continuam elevados no nosso mundo.
E a medicina? Porque é que todos os animais, Homens, tempo e esforço que lhe foram dedicados, todo o conhecimento e tecnologia que desenvolvemos e desmistificámos sejam agora trancados numa clínica que não poderá ser aberta com uma chave, mas com várias, várias notas, e só por alguns?
Porque será que se tem de pagar por todos estes “benefícios” da idade moderna?
A minha explicação é que toda a investigação científica ou tecnológica só é possível graças a grandes investimentos monetários que se fazem e graças a todas as mentes brilhantes que se prostituem por dinheiro a grandes empresas ou laboratórios monopolistas cujo único interesse é obter mais e mais dinheiro, porque dinheiro significa poder, estatuto e benefícios. E todos nós queremos esses três ingredientes da sopa do capitalismo; se isto não fosse verdade já não viveríamos neste sistema económico.
Deixem-me contar-vos uma história …
Era uma vez um pequeno e pobre país da Ásia onde os habitantes sofriam de fome, porque os seus campos agrícolas não eram capazes de produzir bom arroz. Então uma empresa, em conjunto com um certo número de cientistas, organizaram-se e comprometeram-se a modificar arroz para que fosse, não só de boa qualidade e nutritivo, mas também capaz de se cultivar naquela zona. Isso seria feito de graça, e assim foi… Mais tarde, a empresa que tinha ficado com a patente do arroz, apercebeu-se que realmente o seu projecto havia sido um sucesso e então começou a cobrar dinheiro por ele. Os agricultores que puderam pagar as suas sementes conseguiram sobreviver, o resto, a maioria, voltou para o seu estado inicial de fome. Deixem-me só dizer-vos uma coisa, aquele país, afinal, não era assim tão pequeno.
Imaginemos este caso hipotético para percebermos melhor como a ciência e o dinheiro andam de mãos dadas e não por caminhos opostos: uma grande equipa de cientistas desenvolve a vacina capaz de matar o vírus da SIDA. Claro que só o conseguiu porque esta equipa foi financiada por um laboratório que ficará com a patente da vacina. Essa empresa como dispensou muitos fundos vai agora querer não só recuperá-los como também ter bastantes lucros. Portanto, a vacina não vai ser gratuita para ninguém. É injusto e irracional poder-se comprar a saúde. Mais uma vez palmas para o capitalismo e para todos nós, os capitalistas. Como a SIDA é a epidemia do século XXI, a vacina iria ser o best-seller das vacinas, sabendo disso, o laboratório vai obviamente cobrar muito por ela.
Assim, é óbvio e previsível que só quem tiver dinheiro poderá usufruir da ciência e da tecnologia o que parece absurdo e é realmente absurdo.
Por isso, quem não tiver dinheiro, muito dinheiro, irá pertencer ao largo grupo dos excluídos da sociedade, os pobres.
A minha solução é abandonarmos este vício que temos pelo dinheiro e apercebermo-nos que não é justo haver diferenças entre nós que não sejam baseadas naquilo que nós somos, na nossa essência, ou seja, não é minimamente justo diferenciarmo-nos por aquilo que possuímos, por algo tão material e falso.
Se continuarmos com esta linha de pensamento e com este modelo económico, sempre que a ciência der um passo, o ser o humano vai regredir outro, porque estaremos a aumentar a pobreza e a exclusão social.
E não é correcto dizermos que querermos acabar com a pobreza porque para acabar com a pobreza teremos também de erradicar a riqueza, pois se uma destas realidades existir, a outro também existirá.
Em conclusão, não há nenhum paradoxo nesta situação, mas uma irracional consequência da sociedade materialista onde a tecnologia e o progresso humano só estão disponíveis para alguns.
Diogo Bastos, 11º 6




2010 – ANO EUROPEU CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL



O desenvolvimento do conhecimento científico, das suas técnicas e produtos atinge, cada dia que passa, o seu ponto máximo. Todos os dias a tecnologia é explorada, repensada e renovada e isso leva ao crescimento quase autofágico, isto é, a ciência de hoje elimina a de ontem, mas não existiria se não se nutrisse dela. É um construto em camadas nunca elimináveis. Por essa razão podemos dizer que nunca o Homem teve tanto saber e ciência à sua disposição como no dia que vive.
Supostamente, o saber, a ciência e a técnica só existem porque são pragmaticamente necessários, ou seja, a necessidade aguça o engenho para servir o Homem.
Posta a questão nestes termos poderíamos imaginar aqui uma relação triangular perfeita de ‘necessidade’, ‘engenho/invenção’ e ‘satisfação’ e, consequentemente, uma vivência perfeita e feliz.
Será que esta triangulação é verdadeira e, acima de tudo, universal? Será que o desenvolvimento cientifico promove a qualidade de vida do Homem? A resposta é difícil e paradoxal: isso é verdade, mas não é A VERDADE.
Para a satisfação das necessidades básicas, a ciência rudimentar foi essencial e sem ela não teríamos a humanidade formatada do modo actual: a lança de sílex, a roda, a imprensa, a máquina a vapor, o automóvel, o foguetão, os microprocessadores são etapas com o mesmo estatuto no nosso percurso
Todos sabemos, também, que para ter qualidade de vida, o Homem necessita de satisfazer as necessidades básicas, que na realidade actual já não são as mesmas. Já não basta não ter frio, não ter fome e procriar; a sociedade de consumo coloca hoje a fasquia da satisfação num nível mais alto e para se alcançar é necessário adquirir bens e serviços segundo as leis de mercado, onde o dinheiro tem valor primordial.
Com algumas excepções, a maior parte dos seres humanos troca o seu trabalho por dinheiro para depois trocar este pelos tais serviços e produtos. É exactamente aqui que começa a construção do paradoxo. Na deriva do avanço tecnológico, veio a descobrir-se que essa mesma tecnologia, além de ajudar na melhoria das condições de vida também podia, ela mesma, substituir o próprio homem em tarefas de rotina, de maior precisão ou de maior esforço. Tornou-se possível produzir mais, mais rapidamente e mais barato. De inventores da máquina passámos à condição de desperdício e de consumidores.
O desenvolvimento científico e o desenvolvimento das tecnologias seriam uma mais-valia se isso não impedisse o homem de ter melhores condiçoes para viver. Uma realidade que acontece nos dias de hoje é que o ser humano está a ser substituido por máquinas, o que nao devia acontecer uma vez que é o proprio homem que as inventa e as desenvolve. Este factor vai provocar desempregos, isto significa que muitas famílias ficam sem o sustento que permite ao homem ter uma boa qualidade de vida.Há pobreza e exclusão social.
Outra dimensão do Homem, infelizmente, à qual está associado o grande desenvolvimento tecnológico é a guerra. Aliás, as grandes inovações tecnológicas surgiram e foram aplicadas para fins militares. De Leonardo Da Vinci à criação das redes informáticas, os fins militares foram a grande motivação para a criação. A lealdade da luta corpo-a-corpo desapareceu há muito e a tecnologia encarrega-se de combater o Homem, sem necessidade de exposição de um dos lados a qualquer risco físico: lembremo-nos das armas de fogo, dos veículos couraçados, dos veículos e aviões telecomandados, etc. Mas nada nos choca tanto quanto o uso da energia atómica (tecnologia de ponta em 1945) com as consequências terríveis em Nagasaki e Hiroshima. Foi o desenvolvimento científico usado no seu pior.






Em menor escala, todos os dias assistimos a notícias onde as gueras ou confrontos violentos provocam mortes de população civil, fugas, migração de populações, abandono dos campos e destruição da base económica e ambiental. Aumenta a segregação racial, a discriminação e a pobreza. Aqui se consolida o paradoxo que temos vindo a analisar. Por estas dimensão ser tão evidente, tendemos a ver os malefícios da tecnologia apenas no mundo da indústria e do trabalho e esquecemos a dimensão óbvia da tecnologia usada com fins militares.
Tudo isto tem as suas consequências e assim começa um enrolar de problemas e de conflitos. O homem privado de bens e sentindo-se inseguro volta-se agora para os instintos mais básicos, a sobrevivência e a reprodução, e se não consegue obter as condiçoes básicas, para criar uma família, com o seu proprio trabalho, ele vai obtê-las de uma outra forma e muitas vezes esse meio é a criminalidade.
Será que este ciclo vicioso terá solução?
Nesta fase assumo uma posição céptica, se bem que não deixe de imaginar soluções. A solução ideal seria uma carta de princípios sobre o uso da tecnologia, uma espécie de carta semelhante à dos Direitos Humanos, tal como se está a tentar fazer com o Ambiente. Deveria ser feita uma cimeira que acordasse que a tecnologia só poderia estar ao serviço do Homem e do bem comum.


Ana Beatriz Marques e Silva 11º5

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

2010 – ANO EUROPEU CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL




A humanidade tem assistido, e parte dela tem beneficiado, dos espantosos progressos científicos. No entanto, ao contrário do que se imaginava anteriormente, nunca se viu tanta disparidade de estilos de vida, tanta insatisfação e, sobretudo, tanta perplexidade diante do futuro do homem.
No panorama mundial, os recentes avanços tecnológicos e o controle destas novas técnicas por uma pequena parcela da sociedade está a gerar uma nova configuração, um novo recorte, no jogo de poder entre as nações. Nota-se a consolidação de alguns países na liderança mundial. Aos outros países, resta o papel coadjuvante de meros consumidores de tecnologia criada pelos primeiros. Isto quando não são simplesmente excluídos do mercado internacional (caso de diversos países africanos).
Num mundo dito tão desenvolvido, em que se melhorou intensamente a qualidade de vida da sociedade, como poderemos explicar o grande paradoxo que faz parte da nossa existência?
As descobertas e desenvolvimento científicos incomparáveis que tornaram a nossa qualidade de vida melhor (saúde, educação..) foram reduzidos a uma parcela ínfima da sociedade, continuando, e cada vez mais, a existir grupos de minorias excluídos do “mundo” onde vivemos, continuando a pobreza extrema a ser uma realidade cada vez maior.
Enquanto alguns países atingem o apogeu de progresso e aperfeiçoamento, outros atingem o apogeu da pobreza extrema. Vivemos num mundo onde numa ponta se morre de fome e na outra se atiram diariamente quilos de alimentos para o lixo. É concentrada demasiada energia a aperfeiçoar uma parte da sociedade, enquanto que a outra parte se deteriora cada vez mais, e é inteiramente irradiada.
Maria João 11º6

2010 – ANO EUROPEU CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL




A nossa sociedade tem vindo a produzir riquezas e descobertas científicas que contribuem para um desenvolvimento científico notável. Porém, para além da riqueza criada, também se assiste a um agravamento da pobreza, da miséria e da desigualdade social.
Com efeito, o século XX inaugurou uma nova era de desenvolvimento científico e tecnológico e uma nova fase política com a implantação de sistemas democráticos em muitos países do globo, sendo, por isso, considerado um século de artes, letras, ideias e realizações. Estas revoluções da cultura científico-tecnológica trouxeram grandes vantagens e facilidades para uma parte da Humanidade. Como efeito imediato, o forte desenvolvimento tecnológico teve um impacto na qualidade de vida da sociedade ocidental.
Porém, desde essa época, a sociedade, apesar de ávida de alta tecnologia e saber, foi-se tornando também hedonista, deixando que franjas da população vivam na pobreza e em desigualdade social, sem receberem os benefícios de todo o investimento direccionado para o desenvolvimento tecnológico. De facto, quando comparamos o desenvolvimento social dos países ocidentais com os países em desenvolvimento, verificamos uma acentuada disparidade entre a qualidade de vida de ambos. Na verdade, até hoje, o desenvolvimento científico permitiu um aumento da qualidade de vida nas comunidades que o promoveram, mas tarda a chegar à restante população mundial. Em concreto, o progresso tecnológico permite não só a produção exponencial de alimentos que é a única forma de suprir as necessidades alimentares dos mais desfavorecidos, mas também, a obtenção de energia através de novas fontes até hoje pouco utilizadas, como a energia solar, disponíveis em países menos desenvolvidos.
Em suma, assistimos a uma minoria da população cada vez mais rica e, em contraste, uma maioria cada vez mais pobre que não tem acesso a muitos bens básicos. Para combater esta desigualdade, o grande desafio actual é tornar o desenvolvimento científico acessível a todas as sociedades mundiais, possibilitando uma melhoria efectiva da qualidade de vida no nosso planeta.
Beatriz Donato – 11º 5

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

QUEM QUER VIVER PARA SEMPRE ? " O ´SÉTIMO SELO " DE INGMAR BERGMAN


Indubitavelmente uma obra ímpar em toda a história do cinema, este filme tem mais em comum com as películas da época do cinema mudo do que com a obra cinematográfica produzida na sua época. Visualmente assombroso, este filme transporta-nos na perfeição à Idade Média; não a uma imagem estilizada e estereotipada dessa época, mas antes de um modo cru, verdadeiro e agressivo, como se conseguíssemos evocar o passado comum uma simples recordação nostálgica de algo que nuca presenciámos ou vivemos. Cineasta denso e complexo por excelência, Bergman pretende com esta obra fazer-nos reflectir sobre a existência, sobre a ausência de fé e sobre a relação de cada um com a morte e, consequentemente, com a própria vida. A trama passa-se nos Tempos Medievais, mais concretamente numa época em que toda a Europa se encontrava assolada pelo flagelo da Peste Negra.

É neste contexto que surge o cavaleiro que iremos acompanhar no decurso de toda a fita. É este homem, retornado das cruzadas, desiludido com a vida, desiludido com as convicções por que havia lutado e pela vivência que tinha levado até então; no fundo mais que conformado (e até aliviado em certa medida) com a sua própria finitude. É neste momento de crise existencial e de valores que lhe surgem complexas questões de índole ética e filosófica. Perante a força destas inquietantes dúvidas, surge inevitavelmente o desejo impetuoso de falar com alguém, de se confessar perante alguém (no fundo, perante si próprio). Eis porque o Cavaleiro chega à Igreja e se confessa, e ás suas questões, á própria morte. Desta improvável conversa com o seu próprio fim, surge a proposta e o desafio mútuo de um jogo de xadrez entre ambos. Este jogo de xadrez surge aqui então como uma tentativa de adiar o inadiável, de prolongar o desfecho mais que evidente e antecipado mentalmente por cada um de nós.

De facto, é neste caminho que se percorre intimamente com a morte que este muda a concepção da própria vida; esta busca de uma proximidade com entidades tão abstractas como a Morte; Deus, a Existência; aqui retratados de um modo tão palpável, tão concreto, tão intimo por Bergman confere-lhe e à sua obra uma genialidade incrível, como se o cineasta fosse um visionário, alguém para quem estas entidades fossem não só objecto de admiração pela sua complexidade, mas resposta a todas as questões e problemas que assolam a Humanidade. Por entre outras situações que vão decorrendo, o jogo de xadrez vai-se desenrolando incessante e inexoravelmente, contrapondo à inexpressividade calma e fatalista do cavaleiro, o sorriso irónico e sarcástico de alguém que conhece já o desfecho favorável desta partida, mesmo antes desta começar. A imagem do jogo de xadrez com a Morte permanecerá, quanto a mim, como uma das mais belas e simultaneamente terríveis imagens alguma vez criadas na História da 7a arte. Este requinte metafórico sublime tem valor, a meu ver, não tanto pela subtileza, mas exactamente pela crueza e pela riquíssima carga visual que acarreta em si mesma.



Filme difícil, de dúvida e de questionar tudo aquilo que nos habituámos a tomar como certo. Face à consciencialização individual da evidencia cruel da brevidade humana, a personagem central contrapõe um desprendimento e uma procura do verdadeiro sentido da existência. Uma busca incessante da inevitabilidade daquilo que se encontra para além do real que experienciamos cada dia na nossa vivência terrena. É esta procura de Deus, por um homem já sem fé que a mim me toca profundamente. A necessidade de um Deus real, com respostas concretas a problemas reais e ás dúvidas de cada um de nós. Um Deus que não se manifeste através de "milagres" duvidosos mas por diálogo, um Deus de compreensão e não de castigo, de igualdade perante os homens e não de superioridade. Eis pois, porque este filme é hoje tão, actual como no dia em que estreou, porque as questões que coloca são intemporais e dizem respeito a cada um de nós. O valor deste filme é devido, não tanto ás respostas que nos fornece, mas sim pelas questões que coloca. Obrigatório e indispensável.
Manuel Jorge Pereira nº13 12º2

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A alegoria da caverna

A alegoria da caverna continua a ser actual, o homem continua iludido, a nascer cego, inocente, agrilhoado e ignorante. O Homem continua a acreditar no óbvio, nas sombras, nas imagens pretensamente “reais” que são iguais para todos, continua a sentir-se bem com o seu escasso e falso saber. Quando alguém com um novo saber põe em causa o nosso, agimos como os prisioneiros, de forma rude, atrevida e ignorante.
Os velhos saberes dão-nos segurança, enquanto o novo saber exige trabalho. Para sair da caverna em que todos nascemos, precisamos de termos o gosto pelo saber, a capacidade para nos espantarmos e estarmos aptos para aprender e para caminhar em busca do saber ilimitado.
O caminho é íngreme, rude, cheio de obstáculos, doloroso, tem de ser feito lentamente, progressivamente, e ao longo deste caminho vamos aprendendo valores como a beleza, a justiça e virtude a verdade, que nos ajudam a alcançar o BEM. A aprendizagem é rigorosa e sempre renovada, pois o nosso pensamento está sempre a mudar. O caminho de aprendizagem só tem um sentido, uma vez percorrido é impossível regressar ao ponto de partida: a inconsciência da nossa ignorância.
Quando saímos da caverna percebemos que o Sol é a razão, e que sem ele viveríamos na escuridão do desconhecimento, compreendemos que as imagens, as ideias dominantes e os bens materiais que nos rodeiam são sombras e pensamentos que além de irreais e irrelevantes, só nos transmitiam uma falsa sensação de conforto e segurança.
Ao caminharmos em busca de um saber que nunca nos sacia totalmente, vemos o quanto a nossa sociedade está enganada, iludida, protegida por pensamentos, comportamentos duplicados e falsos, pensamentos que impedindo o espanto, nos levam à imitação irreflectida dos outros, construindo assim uma sociedade em que nos tornamos ovelhas que seguem um qualquer “mestre”, ovelhas que quando sozinhas e face a algo inovador, não sabem como pensar ou agir. Na sociedade cada um deve tentar criar a sua própria visão do mundo, na certeza de que nenhuma deles é completamente “real” e por isso, devemos continuar a fazer o esforço para “ver melhor”.
Mas a nossa sociedade tem como lema: “Eu sou mais se tiver mais”. No nosso dia-a-dia somos bombardeados com doses massivas de publicidade, que nos ilude e nos leva a um consumo disparatado e desnecessário. O homem tenta compensar a falta de tempo para pensar, para conviver em sociedade, a falta de inteligência para bem viver, comprando toda a espécie de bens. A sociedade não parece interessar-se particularmente pela capacidade de pensar e agir, pela capacidade de aprendizagem ou pela inteligência, mas sim pela quantidade e tamanho de bens que cada pessoa tem ou pode ter.
Como bem referia o Dalai Lama, o homem passa dois terços da sua vida a estragar a sua saúde para ganhar dinheiro, e um terço da sua vida a gastar o dinheiro que ganhou para recuperar a saúde que perdeu. É absurdo que as pessoas pensem que para se “ser alguém”, se tenha a ingenuidade de que vivemos sempre, com um tipo de vida que nos leva a arranjar doenças, e que nos faz arrepender quando reparamos que é tarde demais, já só querendo prolongar o tempo de vida e recuperar o tempo perdido. Nós somos aquilo que pensamos e fazemos, não aquilo que vestimos e possuímos.

Na Alegoria da Caverna e no filme “The Truman Show” os protagonistas, os prisioneiros, vivem iludidos com uma vida/realidade que lhes foi criada, têm uma atitude baseada na ignorância, e quando começam a perceber que existe um caminho que os leva à luz da razão, tentam percorrê-lo, apesar das dificuldades e obstáculos que os põem sempre à prova.
Truman, depois de muito olhar à sua volta, acaba por reparar que o seu mundo é demasiado controlado, rotineiro, quando alguma coisa sai da rotina, o seu mundo, programado ao pormenor, é imediatamente “reparado”. Truman, vai descobrindo à sua volta o mundo das “sombras” existentes e programadas por um “mestre”. Truman apercebe-se de que a sua vida não é “sua”, que ele não depende das suas ideias, princípios e pensamentos, o que o leva a iniciar a sua viagem pessoal de procura da liberdade e da razão. Durante o caminho é confrontado com várias perplexidades, pois “Truman nunca viveu, não tem pensamentos, não sabe como é a vida”, mas mesmo assim, tem coragem para prosseguir na busca da verdadeira “realidade”.
Truman, tal como os prisioneiros da Alegoria da Caverna, representam a atitude do aprendiz de filósofo, que vive no mundo de sombras e que aos poucos vai ganhando capacidade de se espantar e de procurar respostas para as perguntas que faz a si mesmo, sendo por isso obrigado a tomar uma decisão: “Caminhar em busca do saber – mesmo sem a compreensão da sociedade a que pertencia - ou ser derrotado pela submissão ao velho e rotineiro saber”.
A meu ver o “The Truman Show” é uma excelente representação do nosso mundo real. Todos nós somos o Truman, aceitamos ter a nossa vida controlada, não só por um “mestre”, mas por vários, os nossos pais, os políticos, os jornalistas, os nossos amigos.
O Homem deve que ter noção do que é, a consciência do mundo que o rodeia. Sim, eu também sou “Truman”, e por isso não quero ser mais uma “ovelha” numa sociedade de “ovelhas”, e por isso me disponho abdicar do enganador conforto e segurança da rotina e ganhar capacidade para me espantar e a coragem para iniciar o sempre difícil caminho de busca do saber e da aprendizagem. Proponho-me continuar a mudar e melhorar o meu conhecimento e candidatar-me aos ensinamentos da escola de Platão.

Ana Rita Monteiro – 10º6

terça-feira, 17 de novembro de 2009

PROPOSTA DE REFLEXÃO

SOBRE A ALEGORIA DA CAVERNA E “THE TRUMAN SHOW”


#O que pode significar, nos dias de hoje, a caverna? E o que poderá ser necessário para sair dela? É possível afirmar que a nossa sociedade, também pode ser entendida como produtora de sombras? as imagens publicitárias, as ideias dominantes, os bens materiais que nos são apresentados como “indispensáveis verdadeiros", sê-lo-ão realmente? Será que a partir da ideia de Platão - que defende a necessidade de deixarmos a aparência do mundo sensível - se pode subentender também a possibilidade de uma crítica ao mundo actual, para o qual o que parece importar é possuir mais ou consumir mais? Pode estabelecer-se um paralelo entre a Alegoria da Caverna e o filme “The Truman Show” de Peter ? E estando no lugar de Truman, como teria agido em circunstâncias idênticas?

RESPOSTAS
A Alegoria da Caverna, pode, nos dias de hoje, ser transposta como modelo de interpretação da nossa sociedade. Pode significar aquilo que nos rodeia, aquilo que vemos, tocamos… ou seja, o marketing, a atitude do consumidor consumista, em suma, pode retratar a nossa relação com o consumismo. Através destas duas ilusões, vamos ficando cada vez mais perdidos no mundo sensível, num Mundo cheio de grilhões e sombras, prisioneiros de nós próprios, porque afinal de contas, nós somos a sociedade. Cada vez mais distantes do Conhecimento, e mais distantes da racionalidade, da inteligibilidade, metemo-nos cada vez mais, num buraco de onde dificilmente sairemos, se assim continuarmos. Depende apenas de nós mudar o nosso pensamento e mudar também a nossa atitude perante a Vida e as questões que nos vão aparecendo. Com auxílio ou não, temos que ser capazes.
Para sairmos desta Caverna, precisaríamos de vislumbrar a luz do Sol para nos apercebermos do quão presos, do quão agrilhoados estávamos. É, contudo, um processo doloroso e lento. Esse novo mundo só está ao nosso alcance se estivermos prontos e aceitar uma realidade diferente, um mundo diferente, vivências distintas. Claro está que, mentalmente, temos que estar preparados para tudo, para o positivo e o negativo, o yin e o yang. Prontos, também, para deixarmos de ter a presunção de que aquilo que nos rodeia, envolve, é inequivocamente real. Não! Por isso, o abandono do Mundo sensível para o alcance da realidade, esse sim, é o desafio mais difícil, aquele que nos põe à prova enquanto seres racionais, o que exige a racionalidade que devemos atingir.
Preocupante é a quantidade de sombras que a nossa sociedade produz, nós somos aliás, essas sombras mais que reproduzidas na utopia de uma inconsciente imperfeição. Somos como que marionetas controladas pela realidade, confundindo-nos com ela própria. Mas não, ela é tão produtora de sombras que produz ilusões até mais não. Afinal, saber que já sei tudo, quando há uma infinidade de coisas a saber e não ter consciência da ignorância, é uma ilusão. Mas há que acreditar que existe outra realidade, como já referi. A de enfrentar o Mundo com frontalidade, até porque temos uma motivação: assim que atingirmos o inteligível, não voltamos mais ao Mundo sensível. No entanto, o paradoxo mantém-se: como podemos nós mudar de postura, de mentalidade, se continuamos a ser comandados e programados como ilusões, como sombras? Muito sinceramente, não sei se tenho resposta inteiramente satisfatória para esta questão. Decerto que a resposta se constituirá como pergunta entre tantas outras, mas na minha ignorância não encontro ainda uma resposta que faça sentido.
É minha convicção que nem tudo o que é racional seja irreal. Porque se assim fosse, a filosofia não viria dar sentido às coisas. Nem tudo o que vemos é irreal, só assim há bom senso. Ainda que esta questão posta pela filosofia abra novas portas, novos sub-mundos filosóficos, novos princípios de escolha, há que estabelecer um equilíbrio entre a realidade e a ilusão. Tem que haver e há. Podemos não lhe tocar, ou seja, pode ser abstracto, mas desde que saibamos e tenhamos a certeza de que realmente existe (ex: sentimentos) , mesmo pertencendo ao Mundo sensível, sabemos que não são ilusão, já que , por mais que avancemos no doloroso processo de aprendizagem, não perdemos este “objecto abstracto”, o que só vem fundamentar o equilíbrio entre o certo e o errado, a ilusão e a realidade.
Pois eu vou aprendendo, vou crescendo, mas não posso deixar completamente tudo para trás, daí a realidade das imagens projectadas na parede. Apesar de nós sabermos que era uma ilusão pura e dura, para os presos, não era. Nada mais era se não a realidade deles, aquilo com que eles se habituaram a lidar e a viver. Mais um paradoxo… Como pode uma coisa irreal ser real? Bom, penso que será pelo hábito, por nos sentirmos confortáveis nas nossas concepções, dão-nos segurança. Todavia, não evoluiremos, não tomaremos consciência da ignorância que tínhamos. As imagens, os bens materiais, os ideais, não são constantemente dominantes, quem o é, é a ilusão.Somos levados ao consumismo através das sensações. No acto de consumir, mais do que adquirir e consumir algo que nos iluda, estamos a ser consumidos pelo consumo, consumidos no acto de consumir. Se, para alguns classificamos tal acto como uma extravagância, é porque presumimos só o fazer de vez em quando. Mas não… Há, constantemente, pessoas que, de tão consumidas pelo consumo, não conseguem parar de o fazer. Para além disso, temos a ajudar o marketing e a publicidade, palavras que em si mesmas definem “ilusão”. Com estas potentes armas sempre prontas a disparar, ficamos ainda mais marionetas do consumo, passando ele a controlar a nossa vontade, e o nosso desejo de consumir. Penso que é da Natureza Humana deixar-nos levar pelas sensações, mas creio que, quando atingirmos o “belo” de Platão, saberemos agir com dignidade.
Incondicionalmente, a principal semelhança entre o filme “The Truman Show”e a Alegoria da Caverna, é a vivência desta ilusão. Enquanto que no filme, toda a história, todos os acontecimentos se centram numa só pessoa, alvo de um esquema maquiavélico, na alegoria da Caverna temos um conjunto de prisioneiros envoltos na mesma ilusão, a de tomar o mundo das sombras, da aparência, pela realidade. No filme de Peter Weir, o artifício é dono de tudo, apodera-se de tudo, encobrindo por completo a realidade. Truman, personagem principal, está programado para não sair da ilha em que sempre viveu, e que, por sinal, é um estúdio de televisão. Mas apesar das escolhas serem dele, todas elas são “pensadas”, para que a série não acabe. É notável como Truman se adapta à sua vida pacata, aparentemente perfeita. Contudo, o desejo de Truman sair daquela ilha é tanto, que acaba por fazê-lo, da melhor porque mais inesperada forma. Para o conseguir, ou seja, para passar da ilusão para a realidade, não teve qualquer auxílio.
Foi através de muitas perguntas, de muitos “porquês?”, que foi conseguindo avançar e vislumbrar um feixe de luz, do conhecimento real. Recordo também os cartazes contraditórios, como os da agência de viagens, que apresenta o paradoxal poster de um avião em risco de se despenhar, e a advertência, “poderia acontecer-lhe a si”. Afinal não é o principal objectivo de uma empresa deste ramo, vender viagens? Claro, mas como não queriam que o Truman deixasse Seahaven, assumem a contradição da situação só para o manterem na sua dourada caverna. O processo de libertação foi doloroso, angustiante, quase parecia conduzi-lo à loucura, mas conseguiu, abandonou tenazmente o mundo sensível e atingiu o inteligível como diria Platão, tendo como motivação a busca do amor de Sylvia, mas também a busca pelo mundo desconhecido, sua obsessão desde a infância.Na Alegoria da Caverna, Platão tenta mostrar-nos a ilusão escondida nas pessoas, como acontecia no “The Truman Show” . Assim que os prisioneiros se começaram a erguer, lentamente, a partir os grilhões, a mexer o pescoço, a andar, começaram a ter a noção cada vez mais crescente, do quão irreal era sua vida e do quão ignorantes eram afinal. O mesmo acontece com Truman, depois de ter percebido em que “realidade”estava inserido, começou a ter consciência das coisas, a ter coragem para enfrentá-las e partiu…
Saber se eu, nas mesmas condições, teria feito o mesmo que Truman? Sendo frontal e directo, se as circunstâncias assim o permitissem, diria, muito sinceramente, que sim. E porquê? Porque sou uma pessoa que não gosta de viver iludido, que gosta de ver os seus anseios esclarecidos, e já me teria questionado sobre o que se passava. E não digo isto por ter visto o filme, digo-o porque é assim que sou, porque tento a cada dia ser melhor, tendo em conta aquilo que me rodeia. No mundo em que o Truman vivia, eu não conseguiria evoluir, e sendo assim, só alcançando a verdadeira realidade é que começaria o processo de mudança. Mas sou franco, se não tivesse tido oportunidades para me libertar do mundo sensível, não teria chegado ao final, ou seja, apesar de não ser uma pessoa que desista, a angústia e o desassossego seriam tantos que se apoderariam de mim, não permitindo que tomasse consciência dos meus actos.
Muitos “Trumans” iremos conhecer nós ao longo da nossa caminhada, em circunstâncias e locais diferentes, mas com o mesmo pensamento e atitude: a de querer visionar o outro lado do Mundo, de abandonar a ilusão em que vivo… Apesar de todo este desejo, será com a filosofia que poderemos procurar as respostas, que podemos ser ajudados no que precisamos e, suscitando mais questões e novas respostas, numa incessante busca do Conhecimento.
Luís Filipe Almeida - 10º5

segunda-feira, 27 de abril de 2009

M – Matou

Fritz Lang, aclamado realizador alemão, foi, provavelmente, um dos maiores génios do cinema, sendo por isso difícil afirmar qual foi a sua verdadeira obra-prima.
Mesmo não sendo, unanimemente, considerada a obra de excelência de Fritz Lang, Matou é um filme incontornável, de importante relevo quer no quadro da cinematografia de Lang, quer dentro da própria história do cinema, sendo um dos mais conhecidos símbolos do Expressionismo Alemão.
Este é o primeiro filme sonoro de Lang e, possivelmente, o primeiro da história do cinema em que o som tem tão destacada importância para o desenrolar da obra.
Matou conta-nos a história de um assassino de crianças, Beckert que aterroriza e mantém em constante sobressalto os habitantes da pequena cidade de Dusseldorf.
A polícia, tal como é seu dever, inicia a investigação dos crimes, destacando para isso a emblemática figura do inspector Lohmann. No entanto, as investigações não conseguem alcançar o desfecho ambicionado: mais crimes acontecem e a já amedrontada população adopta uma desproporcionada atitude de desconfiança perante tudo e todos.
Persistente e incansável, o inspector Lohmann reforça as investigações, embrenhando-se nas obscuras e corruptas entranhas da cidade.

Esta atitude desagrada a todos os que vivendo à margem da lei, se sentem lesados por estas investigações, que os privam da sua fonte de sustento. Decididos a apanhar o assassino e a restabelecer a normalidade, os criminosos reúnem-se, mobilizam os meios necessários e dão início às suas investigações. Através da aliança que estabelecem com o sindicato dos mendigos, conseguem montar uma eficaz rede de vigilância que lhes permite controlar toda a cidade.
Por todo o lado se multiplicam os olhares atentos a qualquer suspeita, qualquer sinal, qualquer pista que pudesse permitir a identificação do assassino. Contudo este acaba por ser descoberto por alguém que não podia ver esses sinais que todos os outros tanto procuravam. Beckert, é esse o nome do infanticida, é descoberto por um mendigo, cego, que não tendo outra forma de ver o mundo sem ser através dos sons, reconhece a melodia obsessivamente assobiada pelo assassino, quando se preparava para executar mais um crime, e o denuncia aos seus companheiros.
Começa então a implacável perseguição a Beckert que culmina na sua detenção por parte dos criminosos. Estes concedem-lhe um simulacro de julgamento, providenciam-lhe um advogado de defesa, que não impede que lhe seja atribuída a aplicação da pena máxima, da qual Beckert só é salvo pela repentina chegada da polícia.
No seu julgamento oficial, Beckert acaba por ser considerado um doente, um louco e escapa por isso à pena máxima. A mensagem final de Lang é clara – “protejam os vossos filhos”, e protejam-se a vós próprios, poderíamos acrescentar. Protejam-se do mal que existe e do mal que se pode abater sobre vós, da forma mais absurda e irracional, porque quando ele chega ninguém escapa, especialmente porque quando é trazido pela loucura, torna-se incontrolável.

Esta loucura do homem é um tema recorrente em Lang, estando também expressa de forma exacerbada na trilogia do Dr. Mabuse - Dr. Mabuse, O jogador de 1922, O testamento do Dr. Mabuse, de 1933, Os mil olhos do Dr. Mabuse, a sua obta terminal - que nos tenta alertar para o poder imprevisível da loucura, para a forma como transfigura o homem e o incapacita, impedindo-o de ter consciência ou controlar as suas próprias acções.
O discurso final de Beckert sobre esse poder da loucura é impressionante e transmite claramente a ideia de Lang. Mas, este discurso foca ainda um outro factor muito importante, o medo: Beckert tem mais medo de si do que dos outros, e enquanto conserva este medo irracional, aumenta a ténue linha que o separa da loucura.
Esta associação entre loucura e medo faz com que o filme seja muitas vezes referenciado como um aviso do perigo nazi, de tal forma que o título original “Os assassinos estão entre nós” foi retirado, por receio das reacções do partido nazi.
De facto, os ideais nazis são, muito provavelmente, a expressão máxima da influência da loucura na mente humana, e o medo seria uma boa forma de construir uma barreira isolante capaz de nos proteger deles.

Patrícia Abreu 11º4

terça-feira, 4 de março de 2008

O Testamento do Dr.Mabuse

Obra-prima de Fritz Lang, Dr.Mabuse é um filme que nos conta a história de um génio do mal. Mabuse, dotado de uma lógica quase sobre-humana, utilizava a sua fascinante mente para cometer crimes perfeitos, através da hipnose, enquanto paralelamente desenvolvia a profissão de médico numa prestigiada instituição. Ao ser apanhado, foi internado no hospício do professor Baum, uma vez que, devido aos sinais de loucura que apresentava, lhe foi reconhecido o estado de insanidade mental. Durante anos, permaneceu estático, preservando um inquietante ar fantasmagórico; mas o seu estado clínico mudou, e, deixando o estado de apatia, começou a escrever palavras e frases, ao início, sem lógica, mas que progressivamente ganharam coerência. Ao organizar esses apontamentos de Dr. Mabuse, um médico do hospício, Dr. Kramm, constatou que se tratavam de instruções para cometer roubos, e que essas mesmas instruções estavam a ser seguidas por bandidos. Professor Baum, médico que acompanhava Mabuse diariamente, considerou ridícula a hipótese de que Mabuse estivesse durante este tempo a comandar toda uma estrutura criminosa de dentro da sua cela hospitalar, fingindo um estado de loucura para ter um álibi. Quando Kramm ia à polícia contar a sua conjectura, foi brutalmente assassinado.
Inspector Lohmann, inspector da polícia, procura então o responsável pelo assassinato, enquanto paralelamente investiga a história de Hofmeister, homem que lhe estava para revelar o nome de um alto criminoso quando foi atacado, tendo mais tarde sido encontrado enquanto deambulava pelas ruas, louco. A juntar a estas duas histórias, aparece a de Tom, um desempregado que, para sobreviver, é obrigado a juntar-se ao mundo do crime, donde quer, mas não consegue, sair. Observamos o desenrolar destas três histórias que se acabarão por fundir, tendo como elemento de ligação Dr.Mabuse. Semeando o caos, Mabuse pretende instaurar um império do crime. Apesar de chegar a morrer fisicamente (ou pelo menos criando essa ilusão), o espectro de Mabuse assume o corpo do professor Baum, que já anteriormente tinha dado provas de não conseguir resistir ao poderoso controlo mental que sobre ele exercia. Foi partir deste que Mabuse organizou a sua rede criminosa, que comete crimes perfeitos não pelo dinheiro mas sim para criar a confusão e o medo, para alcançar o tal estado de anarquia. Ao descobrir isto, com a preciosa ajuda de Tom, Lohmann e este tentam capturar o professor Baum, que irá aparecer no hospício, irremediavelmente louco.Este é um policial expressionista em que o vencedor não é nem a polícia, nem o criminoso; antes a loucura. Mabuse é a sua personificação; o seu rasto é composto pelas vítimas que arrasta consigo, casos de Hofmeister e de Baum. Ninguém escapa à proximidade de Mabuse; ninguém escapa à proximidade da loucura. Somos todos confrontados com ela, e embora possamos não ser seus escravos, ela acaba por ter pelo menos uma interferência indirecta na nossa vida. A loucura é a confusão, o inesperado, algo que escapa ao nosso alcance lógico; produz em nós um estado de estupefacção, de receio, pois não entendemos a situação. O homem tem medo da loucura, tem medo daquilo com que não está habituado a deparar-se; a única forma de vencer o medo e a loucura, é não fazer de conta que não existe, e enfrentá-la.Uma obra capaz de mostrar uma realidade dura, em que os problemas acabam por não se conseguir travar, mas apenas atenuar. Não há, por isso, nenhum salvador que apareça para derrotar o mal para que o bem prevaleça; como acontece na realidade, há certas coisas que escapam ao nosso domínio; o nosso dever é tentar compreendê-las, mas nunca com a prepotência de sobre ela criarmos axiomas.
Uma obra de belo efeito, onde mais uma vez o
famigerado jogo de sombras expressionista nos proporciona imagens excelentes e onde os efeitos especiais são de grande qualidade (não só para a época, visto que o filme data do ano de 1933, como também quando comparado com alguns que são feitos hoje em dia). É também uma obra que se revela muito importante na caracterização do ambiente cultural, social e económico da época. Todo o ambiente de degradação que a Alemanha experimentou depois da primeira guerra mundial aparece expresso no filme. O desemprego, o responsável pela associação de Tom ao mundo do crime, é um bom exemplo disto.
O filme pode ser ainda interpretado como um alerta para o perigo nazi, uma crítica acérrima à loucura política. Na época, este partido ganhava cada vez mais expressão, aproveitando-se (tal como a rede criminosa de Mabuse) daqueles que viviam na miséria e que estavam por isso mais expostos a serem influenciados. Este filme foi proibido na Alemanha nazi, que chegou, no entanto, a oferecer a Fritz Lang o cargo de dirigente cinematográfico do país. Não se sabe se o realizador terá dito que precisaria de um dia para decidir, ou se terá prontamente aceite. Certo é, que no dia seguinte, Fritz Lang tinha partido para a América, declinando o convite da loucura.


João Alberto - 11º5 nº9