Indubitavelmente uma obra ímpar em toda a história do cinema, este filme tem mais em comum com as películas da época do cinema mudo do que com a obra cinematográfica produzida na sua época. Visualmente assombroso, este filme transporta-nos na perfeição à Idade Média; não a uma imagem estilizada e estereotipada dessa época, mas antes de um modo cru, verdadeiro e agressivo, como se conseguíssemos evocar o passado comum uma simples recordação nostálgica de algo que nuca presenciámos ou vivemos. Cineasta denso e complexo por excelência, Bergman pretende com esta obra fazer-nos reflectir sobre a existência, sobre a ausência de fé e sobre a relação de cada um com a morte e, consequentemente, com a própria vida. A trama passa-se nos Tempos Medievais, mais concretamente numa época em que toda a Europa se encontrava assolada pelo flagelo da Peste Negra.
É neste contexto que surge o cavaleiro que iremos acompanhar no decurso de toda a fita. É este homem, retornado das cruzadas, desiludido com a vida, desiludido com as convicções por que havia lutado e pela vivência que tinha levado até então; no fundo mais que conformado (e até aliviado em certa medida) com a sua própria finitude. É neste momento de crise existencial e de valores que lhe surgem complexas questões de índole ética e filosófica. Perante a força destas inquietantes dúvidas, surge inevitavelmente o desejo impetuoso de falar com alguém, de se confessar perante alguém (no fundo, perante si próprio). Eis porque o Cavaleiro chega à Igreja e se confessa, e ás suas questões, á própria morte. Desta improvável conversa com o seu próprio fim, surge a proposta e o desafio mútuo de um jogo de xadrez entre ambos. Este jogo de xadrez surge aqui então como uma tentativa de adiar o inadiável, de prolongar o desfecho mais que evidente e antecipado mentalmente por cada um de nós.
De facto, é neste caminho que se percorre intimamente com a morte que este muda a concepção da própria vida; esta busca de uma proximidade com entidades tão abstractas como a Morte; Deus, a Existência; aqui retratados de um modo tão palpável, tão concreto, tão intimo por Bergman confere-lhe e à sua obra uma genialidade incrível, como se o cineasta fosse um visionário, alguém para quem estas entidades fossem não só objecto de admiração pela sua complexidade, mas resposta a todas as questões e problemas que assolam a Humanidade. Por entre outras situações que vão decorrendo, o jogo de xadrez vai-se desenrolando incessante e inexoravelmente, contrapondo à inexpressividade calma e fatalista do cavaleiro, o sorriso irónico e sarcástico de alguém que conhece já o desfecho favorável desta partida, mesmo antes desta começar. A imagem do jogo de xadrez com a Morte permanecerá, quanto a mim, como uma das mais belas e simultaneamente terríveis imagens alguma vez criadas na História da 7a arte. Este requinte metafórico sublime tem valor, a meu ver, não tanto pela subtileza, mas exactamente pela crueza e pela riquíssima carga visual que acarreta em si mesma.
Filme difícil, de dúvida e de questionar tudo aquilo que nos habituámos a tomar como certo. Face à consciencialização individual da evidencia cruel da brevidade humana, a personagem central contrapõe um desprendimento e uma procura do verdadeiro sentido da existência. Uma busca incessante da inevitabilidade daquilo que se encontra para além do real que experienciamos cada dia na nossa vivência terrena. É esta procura de Deus, por um homem já sem fé que a mim me toca profundamente. A necessidade de um Deus real, com respostas concretas a problemas reais e ás dúvidas de cada um de nós. Um Deus que não se manifeste através de "milagres" duvidosos mas por diálogo, um Deus de compreensão e não de castigo, de igualdade perante os homens e não de superioridade. Eis pois, porque este filme é hoje tão, actual como no dia em que estreou, porque as questões que coloca são intemporais e dizem respeito a cada um de nós. O valor deste filme é devido, não tanto ás respostas que nos fornece, mas sim pelas questões que coloca. Obrigatório e indispensável.
Manuel Jorge Pereira nº13 12º2
É neste contexto que surge o cavaleiro que iremos acompanhar no decurso de toda a fita. É este homem, retornado das cruzadas, desiludido com a vida, desiludido com as convicções por que havia lutado e pela vivência que tinha levado até então; no fundo mais que conformado (e até aliviado em certa medida) com a sua própria finitude. É neste momento de crise existencial e de valores que lhe surgem complexas questões de índole ética e filosófica. Perante a força destas inquietantes dúvidas, surge inevitavelmente o desejo impetuoso de falar com alguém, de se confessar perante alguém (no fundo, perante si próprio). Eis porque o Cavaleiro chega à Igreja e se confessa, e ás suas questões, á própria morte. Desta improvável conversa com o seu próprio fim, surge a proposta e o desafio mútuo de um jogo de xadrez entre ambos. Este jogo de xadrez surge aqui então como uma tentativa de adiar o inadiável, de prolongar o desfecho mais que evidente e antecipado mentalmente por cada um de nós.
De facto, é neste caminho que se percorre intimamente com a morte que este muda a concepção da própria vida; esta busca de uma proximidade com entidades tão abstractas como a Morte; Deus, a Existência; aqui retratados de um modo tão palpável, tão concreto, tão intimo por Bergman confere-lhe e à sua obra uma genialidade incrível, como se o cineasta fosse um visionário, alguém para quem estas entidades fossem não só objecto de admiração pela sua complexidade, mas resposta a todas as questões e problemas que assolam a Humanidade. Por entre outras situações que vão decorrendo, o jogo de xadrez vai-se desenrolando incessante e inexoravelmente, contrapondo à inexpressividade calma e fatalista do cavaleiro, o sorriso irónico e sarcástico de alguém que conhece já o desfecho favorável desta partida, mesmo antes desta começar. A imagem do jogo de xadrez com a Morte permanecerá, quanto a mim, como uma das mais belas e simultaneamente terríveis imagens alguma vez criadas na História da 7a arte. Este requinte metafórico sublime tem valor, a meu ver, não tanto pela subtileza, mas exactamente pela crueza e pela riquíssima carga visual que acarreta em si mesma.
Filme difícil, de dúvida e de questionar tudo aquilo que nos habituámos a tomar como certo. Face à consciencialização individual da evidencia cruel da brevidade humana, a personagem central contrapõe um desprendimento e uma procura do verdadeiro sentido da existência. Uma busca incessante da inevitabilidade daquilo que se encontra para além do real que experienciamos cada dia na nossa vivência terrena. É esta procura de Deus, por um homem já sem fé que a mim me toca profundamente. A necessidade de um Deus real, com respostas concretas a problemas reais e ás dúvidas de cada um de nós. Um Deus que não se manifeste através de "milagres" duvidosos mas por diálogo, um Deus de compreensão e não de castigo, de igualdade perante os homens e não de superioridade. Eis pois, porque este filme é hoje tão, actual como no dia em que estreou, porque as questões que coloca são intemporais e dizem respeito a cada um de nós. O valor deste filme é devido, não tanto ás respostas que nos fornece, mas sim pelas questões que coloca. Obrigatório e indispensável.
Manuel Jorge Pereira nº13 12º2