quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

2010 – ANO EUROPEU CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL



O desenvolvimento do conhecimento científico, das suas técnicas e produtos atinge, cada dia que passa, o seu ponto máximo. Todos os dias a tecnologia é explorada, repensada e renovada e isso leva ao crescimento quase autofágico, isto é, a ciência de hoje elimina a de ontem, mas não existiria se não se nutrisse dela. É um construto em camadas nunca elimináveis. Por essa razão podemos dizer que nunca o Homem teve tanto saber e ciência à sua disposição como no dia que vive.
Supostamente, o saber, a ciência e a técnica só existem porque são pragmaticamente necessários, ou seja, a necessidade aguça o engenho para servir o Homem.
Posta a questão nestes termos poderíamos imaginar aqui uma relação triangular perfeita de ‘necessidade’, ‘engenho/invenção’ e ‘satisfação’ e, consequentemente, uma vivência perfeita e feliz.
Será que esta triangulação é verdadeira e, acima de tudo, universal? Será que o desenvolvimento cientifico promove a qualidade de vida do Homem? A resposta é difícil e paradoxal: isso é verdade, mas não é A VERDADE.
Para a satisfação das necessidades básicas, a ciência rudimentar foi essencial e sem ela não teríamos a humanidade formatada do modo actual: a lança de sílex, a roda, a imprensa, a máquina a vapor, o automóvel, o foguetão, os microprocessadores são etapas com o mesmo estatuto no nosso percurso
Todos sabemos, também, que para ter qualidade de vida, o Homem necessita de satisfazer as necessidades básicas, que na realidade actual já não são as mesmas. Já não basta não ter frio, não ter fome e procriar; a sociedade de consumo coloca hoje a fasquia da satisfação num nível mais alto e para se alcançar é necessário adquirir bens e serviços segundo as leis de mercado, onde o dinheiro tem valor primordial.
Com algumas excepções, a maior parte dos seres humanos troca o seu trabalho por dinheiro para depois trocar este pelos tais serviços e produtos. É exactamente aqui que começa a construção do paradoxo. Na deriva do avanço tecnológico, veio a descobrir-se que essa mesma tecnologia, além de ajudar na melhoria das condições de vida também podia, ela mesma, substituir o próprio homem em tarefas de rotina, de maior precisão ou de maior esforço. Tornou-se possível produzir mais, mais rapidamente e mais barato. De inventores da máquina passámos à condição de desperdício e de consumidores.
O desenvolvimento científico e o desenvolvimento das tecnologias seriam uma mais-valia se isso não impedisse o homem de ter melhores condiçoes para viver. Uma realidade que acontece nos dias de hoje é que o ser humano está a ser substituido por máquinas, o que nao devia acontecer uma vez que é o proprio homem que as inventa e as desenvolve. Este factor vai provocar desempregos, isto significa que muitas famílias ficam sem o sustento que permite ao homem ter uma boa qualidade de vida.Há pobreza e exclusão social.
Outra dimensão do Homem, infelizmente, à qual está associado o grande desenvolvimento tecnológico é a guerra. Aliás, as grandes inovações tecnológicas surgiram e foram aplicadas para fins militares. De Leonardo Da Vinci à criação das redes informáticas, os fins militares foram a grande motivação para a criação. A lealdade da luta corpo-a-corpo desapareceu há muito e a tecnologia encarrega-se de combater o Homem, sem necessidade de exposição de um dos lados a qualquer risco físico: lembremo-nos das armas de fogo, dos veículos couraçados, dos veículos e aviões telecomandados, etc. Mas nada nos choca tanto quanto o uso da energia atómica (tecnologia de ponta em 1945) com as consequências terríveis em Nagasaki e Hiroshima. Foi o desenvolvimento científico usado no seu pior.






Em menor escala, todos os dias assistimos a notícias onde as gueras ou confrontos violentos provocam mortes de população civil, fugas, migração de populações, abandono dos campos e destruição da base económica e ambiental. Aumenta a segregação racial, a discriminação e a pobreza. Aqui se consolida o paradoxo que temos vindo a analisar. Por estas dimensão ser tão evidente, tendemos a ver os malefícios da tecnologia apenas no mundo da indústria e do trabalho e esquecemos a dimensão óbvia da tecnologia usada com fins militares.
Tudo isto tem as suas consequências e assim começa um enrolar de problemas e de conflitos. O homem privado de bens e sentindo-se inseguro volta-se agora para os instintos mais básicos, a sobrevivência e a reprodução, e se não consegue obter as condiçoes básicas, para criar uma família, com o seu proprio trabalho, ele vai obtê-las de uma outra forma e muitas vezes esse meio é a criminalidade.
Será que este ciclo vicioso terá solução?
Nesta fase assumo uma posição céptica, se bem que não deixe de imaginar soluções. A solução ideal seria uma carta de princípios sobre o uso da tecnologia, uma espécie de carta semelhante à dos Direitos Humanos, tal como se está a tentar fazer com o Ambiente. Deveria ser feita uma cimeira que acordasse que a tecnologia só poderia estar ao serviço do Homem e do bem comum.


Ana Beatriz Marques e Silva 11º5