quinta-feira, 15 de abril de 2010

O paradoxo da pobreza e da exclusão social versus o grande desenvolvimento científico


A pobreza é uma realidade. Ninguém que se considere consciente o pode ignorar. No entanto, para muitos, isto representa uma profunda contradição dado que o mundo actual goza não só de um considerável nível de riqueza como é tecnologicamente mais evoluído. Na verdade, o real valor da tecnologia é, em termos económicos, reduzir o custo necessário para produzir algo (comida, mecânica, etc.) que por sua vez gera riqueza. Isto significa que quanto maior a capacidade tecnológica, maior a riqueza. Um exemplo especialmente flagrante é a comparação entre países ditos desenvolvidos e países ditos subdesenvolvidos, em que a população dos países subdesenvolvidos (com a excepção dos países produtores de petróleo) é mais pobre, se bem que a existência de pobreza em países desenvolvidos seja mais difícil de explicar.
De acordo com John Rawls o mundo mais justo é o mundo em que a pobreza é mais escassa. Para o atingir, existem essencialmente duas vertentes: o equilíbrio de riqueza entre os cidadãos de um país e a quantidade de riqueza total de um país. A maximização destes dois conceitos corresponde em termos políticos, de uma forma grosseira, respectivamente ao comunismo e ao capitalismo. O problema é que nenhuma vertente é superior à outra, pois um grande equilíbrio de riqueza entre cidadãos pode significar que todos são pobres, e uma grande quantidade de riqueza pode significar que uns são muito pobres. Em suma o problema de pobreza é mais complexo do que possa parecer, e à primeira vista o desenvolvimento científico ou tecnológico não é responsável pela existência ou não existência de pobreza, pois só afecta a quantidade de riqueza. Mas a ciência não é assim tão isenta.

O mundo da ciência é, para muitos, estranho. De facto, os únicos que o entendem realmente são os cientistas, mas pode ser entendido como um modelo de funcionamento do mundo conhecido. A noção de cientismo, i.e. de que a ciência vai responder a tudo, é até um (ultrapassado) conceito filosófico, o que não deixa de ser irónico. O objectivo da ciência é o de aumentar o conhecimento a partir do conhecimento existente, de expandir o mundo conhecido. É a abordagem que mais produz resultados práticos, que gera mais riqueza e cujo critério de validade é mais sofisticado, tendo base tanto em experimentação (observação controlada) e em teoria (lógica). Por outro lado, isto torna a ciência em algo que vale por si, que por natureza é independente de valores morais ou vontades. Mas quem usa a ciência é o Homem, e o Homem é tanto capaz de actos bondosos como de terríveis crimes. E a ciência, sob a forma de tecnologia, amplia muito o poder do Homem. Mas, passará a solução por restringir a investigação em certas áreas do saber?
Joseph Mengele, por exemplo, foi um indivíduo que durante a 2ºGuerra Mundial, conduziu experiências em prisioneiros de campos de concentração que podem ser melhor descritas como tortura minuciosamente registada. Será legítimo usar os dados obtidos para fins médicos, sabendo a proveniência destes dados?
O problema anterior é controverso, mas existe outro problema que provavelmente nos interessará mais: o sistema de patentes. Hoje em dia, para produzir algo industrialmente é necessário uma patente. Este conceito ocidental visa recompensar a investigação e invenção, seja através da criação de uma empresa para vender as aplicações, seja através da venda da patente (autorização exclusiva de produção) a uma empresa interessada. No entanto, isto não só implica que alguma tecnologia potencialmente benéfica não seja acessível a grande parte da população, como também incentiva ao egoísmo que é o ter por objectivo maximizar o rendimento obtido. E podemos, não, devemos resolver este problema o mais rapidamente possível a fim de evitar a exploração de muitos por outros, o que desequilibra a distribuição de riqueza e que, por sua vez potencia a divisão e exclusão social.
Poder-se-iam minimizar estes problemas, procedendo da seguinte forma:
1. Rescindir o estatuto de exclusividade da patente, se bem que naturalmente quem a não possui deve pagar um valor a estipular para o possuidor da patente para produzir, de forma a recompensar a investigação mas também a generalizar (e possivelmente, devido à lógica de mercado, recompensar mais generosamente).
2. Reduzir o número de escalas da hierarquia empresarial, de forma a distribuir mais equitativamente a riqueza, sendo que esta medida também requer um ensino obrigatório mais exigente.
3. Reorganizar a estrutura empresarial de forma que existam empresas especializadas em produção e empresas especializadas em investigação, sendo que esta medida depende da aceitação da primeira para ser verdadeiramente eficaz. Luís Gonçalo Simões 11º 5