domingo, 18 de abril de 2010
ESCOLA J. FALCÃO EVOCA AS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
De 12 a 16 de Abril decorre, na Escola Secundária José Falcão, uma homenagem evocativa das vítimas do Holocausto. Com o seu título, O Dever de Memória, pretende-se que os jovens compreendam as causas desse infausto e dramático acontecimento, e que reflictam sobre as suas consequências.
O filme, A Fuga de Sobibor, é visionado por todos os alunos. Complementarmente, está patente uma exposição sobre o tema na sala do átrio, aberta à comunidade. Durante todos os dias em que decorre esta evocação, no final da exibição do filme haverá lugar a debate, dinamizado pelo Professor Doutor Reis Torgal (dias 12 e 14) e pelo Dr. Alfredo Reis. (dias 13,15 e 16)
No primeiro dia, Reis Torgal explicou a lógica do nazismo e deixou bem claro que este problema não é exclusivo do passado, e que, se houver condições, ele pode ressurgir a qualquer momento e em qualquer lugar. Alunos e professores colocaram questões inquietantes a que o palestrante respondeu de uma forma igualmente problematizadora
quinta-feira, 15 de abril de 2010
ENTREVISTA COM ARTUR RIBEIRO, Argumentista da série da TVI “Destino Imortal”
Garras: O êxito dos filmes da série Twilight fez ressurgir o interesse pela secular temática do "vampirismo". Viu os filmes? E o que pensa da abordagem cinematográfica escolhida para a adaptação da obra de Stephenie Meyer?
Os livros e filmes da saga Twilight foram um fenómeno devido à reciclagem "teenage-american-dream" que é vinculada através da fabulização dos vampiros como os novos "good-bad-boys". Se analisarmos a estrutura de Twilight encontramos a velha história clássica de romance adolescente de liceu, em que a menina que é diferente das outras -- a nova aluna, vinda de fora, tímida, modesta, etc -- fica com o rapaz mais apetecido e mais cool do liceu: no caso, o vampiro Edward (chegando aqui ao ponto de este vampiro em vez de morrer ao sol fica a brilhar com a pele cheia de "diamantes dourados" -- bem diziam que "diamonds are the girl's best friend"). Neste caso, os alunos vampiros são os mais cool, mais bonitos, mais ricos, conduzem os melhores carros, têm a melhor roupa, e por isso, tirando o facto de beberem sangue e serem imortais, são iguais aos outros paradigmas dos filmes para adolescentes americanos, aqui com uma mais valia pois podem dar grandes saltos, parar veículos com as mãos e baterem de forma sobre-humana nos rapazes maus salvando as donzelas em risco de serem violadas (se recordarmos os vampiros de outros tempos, eram eles que violavam as donzelas...). Por outro lado, sobretudo na versão em livro, o texto é criado do ponto de vista da adolescente (a escrita é mesmo adolescente, até no mau sentido de ser fraquinha como escrita) e isso ajudou a conquistar as milhões de fãs na sua maioria jovens raparigas que são igualmente quem mais vai ao cinema e quem mais lê.
Garras: A abrangência das referências cinéfilas sobre o vampirismo é já longínqua, desde o incontornável Nosferatu(1922) de F. W. Murnau, até aos mais recentes Dracula (1992) de F. F. Coppola, ou à Entrevista com o Vampiro(1994) de Neil Jordan. Sei que fez uma alargada pesquisa sobre o tema. Quais foram os suas fontes de inspiração?
Quando me propuseram escrever uma série de vampiros a minha primeira preocupação foi o que poderia escrever de original num género já tão rico em narrativas, com três séculos de tradição e várias obras-primas. Por isso, não só fui rever alguns dos filmes referidos, como também fui espreitar as actuais séries de televisão de sucesso como o True Blood ou o Vampire Diaries. Sentindo que seria difícil encontrar algo que não seja de uma forma ou de outra abordado em algumas destas referências, fui pesquisar a história e foi lá que se fez luz, ao encontrar a figura do Dampiro.
Garras: A ideia da figura do dampiro é pouco usual dentro deste imaginário cinéfilo. O que o levou a introduzir este tipo de conceito no argumento?
Ao pesquisar a história das lendas dos vampiros encontrei a referência no folclore dos balcãs a esta figura de um filho de vampiro com mulher humana, que podia ter os poderes dos vampiros mas não as suas fraquezas, e por isso tornavam-se caçadores de vampiros natos. Embora naturalmente lendária, esta figura era encarnada na época por espertalhões que se faziam passar por dampiros e eram contratados pelas populações aterrorizadas por vampiros para os destruir. Contudo, o que me interessou na figura foi o seu lado Freudiano/Edipiano do filho renegar a sua descendência e tornar-se o assassino do próprio pai, ou pelo menos da sua espécie. Ao mesmo tempo, como me pediam também uma história de amor, descobri aqui um elemento que poderia ser original e interessante: a sensação de amor à primeira vista que o dampiro Miguel sente pela vampira Sofia (ainda ambos não sabendo o que outro é, e no caso do Miguel o que ele próprio é) não é mais que um mecanismo de defesa animal, e as sensações que passam entre os dois à partida não será de amor mas de ódio e destruição. Esta confusão entre o amor e ódio pareceu-me um ponto de partida diferente para um romance e daqui lançamo-nos -- com a Cristina Silva, minha co-argumentista -- para a história desta mini-série com um conflito que nos pareceu poder dar um bom desenvolvimento.
Os livros e filmes da saga Twilight foram um fenómeno devido à reciclagem "teenage-american-dream" que é vinculada através da fabulização dos vampiros como os novos "good-bad-boys". Se analisarmos a estrutura de Twilight encontramos a velha história clássica de romance adolescente de liceu, em que a menina que é diferente das outras -- a nova aluna, vinda de fora, tímida, modesta, etc -- fica com o rapaz mais apetecido e mais cool do liceu: no caso, o vampiro Edward (chegando aqui ao ponto de este vampiro em vez de morrer ao sol fica a brilhar com a pele cheia de "diamantes dourados" -- bem diziam que "diamonds are the girl's best friend"). Neste caso, os alunos vampiros são os mais cool, mais bonitos, mais ricos, conduzem os melhores carros, têm a melhor roupa, e por isso, tirando o facto de beberem sangue e serem imortais, são iguais aos outros paradigmas dos filmes para adolescentes americanos, aqui com uma mais valia pois podem dar grandes saltos, parar veículos com as mãos e baterem de forma sobre-humana nos rapazes maus salvando as donzelas em risco de serem violadas (se recordarmos os vampiros de outros tempos, eram eles que violavam as donzelas...). Por outro lado, sobretudo na versão em livro, o texto é criado do ponto de vista da adolescente (a escrita é mesmo adolescente, até no mau sentido de ser fraquinha como escrita) e isso ajudou a conquistar as milhões de fãs na sua maioria jovens raparigas que são igualmente quem mais vai ao cinema e quem mais lê.
Garras: A abrangência das referências cinéfilas sobre o vampirismo é já longínqua, desde o incontornável Nosferatu(1922) de F. W. Murnau, até aos mais recentes Dracula (1992) de F. F. Coppola, ou à Entrevista com o Vampiro(1994) de Neil Jordan. Sei que fez uma alargada pesquisa sobre o tema. Quais foram os suas fontes de inspiração?
Quando me propuseram escrever uma série de vampiros a minha primeira preocupação foi o que poderia escrever de original num género já tão rico em narrativas, com três séculos de tradição e várias obras-primas. Por isso, não só fui rever alguns dos filmes referidos, como também fui espreitar as actuais séries de televisão de sucesso como o True Blood ou o Vampire Diaries. Sentindo que seria difícil encontrar algo que não seja de uma forma ou de outra abordado em algumas destas referências, fui pesquisar a história e foi lá que se fez luz, ao encontrar a figura do Dampiro.
Garras: A ideia da figura do dampiro é pouco usual dentro deste imaginário cinéfilo. O que o levou a introduzir este tipo de conceito no argumento?
Ao pesquisar a história das lendas dos vampiros encontrei a referência no folclore dos balcãs a esta figura de um filho de vampiro com mulher humana, que podia ter os poderes dos vampiros mas não as suas fraquezas, e por isso tornavam-se caçadores de vampiros natos. Embora naturalmente lendária, esta figura era encarnada na época por espertalhões que se faziam passar por dampiros e eram contratados pelas populações aterrorizadas por vampiros para os destruir. Contudo, o que me interessou na figura foi o seu lado Freudiano/Edipiano do filho renegar a sua descendência e tornar-se o assassino do próprio pai, ou pelo menos da sua espécie. Ao mesmo tempo, como me pediam também uma história de amor, descobri aqui um elemento que poderia ser original e interessante: a sensação de amor à primeira vista que o dampiro Miguel sente pela vampira Sofia (ainda ambos não sabendo o que outro é, e no caso do Miguel o que ele próprio é) não é mais que um mecanismo de defesa animal, e as sensações que passam entre os dois à partida não será de amor mas de ódio e destruição. Esta confusão entre o amor e ódio pareceu-me um ponto de partida diferente para um romance e daqui lançamo-nos -- com a Cristina Silva, minha co-argumentista -- para a história desta mini-série com um conflito que nos pareceu poder dar um bom desenvolvimento.
Garras: O actual tratamento do vampirismo no cinema, em particular da série Twilight, é frequentemente referido como sendo demasiado light, longe do conceito mais sombrio, sangrento e sexual a que o tema sempre esteve associado. Concorda com estas observações? Qual é afinal a essência da metáfora do vampiro?
Sim, como dizia atrás em relação a Twilight, os vampiros bons de Twilight são o género de namorado que todas as raparigas gostariam de apresentar aos pais. Estamos muito para além do carácter perverso sexual dos antigos vampiros, do Bram Stoker, por exemplo, em que o vampiro era em parte uma metáfora para os perigos de uma sexualidade exuberante, que reflectia os costumes moralistas da época. Não sei contudo se isto significa que a nossa época é menos moralista ou se mais, pois esta limpeza dos vampiros tira-lhes também o charme da transgressão e, diga-se de passagem, são muito assexuados. Não há nada de mais puritano que aquela relação asséptica entre Edward e Bella.
Garras: O que há de tão peculiar neste mito, para que possa - após tantos sécs. - continuar a atrair mesmo o imaginário mais contemporâneo?
Acho que passa muito pela necessidade que as pessoas têm do sobrenatural. A realidade nunca parece satisfazer -- pelo menos na ficção -- as aspirações do comuns mortais, e a imortalidade, invencibilidade, ausência da doença, do envelhecimento, e conquista da morte, é apelativo desde tempos primordiais e nas suas transfigurações modernas continuará sempre a sê-lo.
Para saber mais: http://oteudestinoestamarcado.tvi.pt/
Alguns filmes de referência: Nosferatu, de D.W.Murnau; Dracula, de Tod Browning; Vampyr, de Carl Dreyer; Bram Stoker´s Dracula de Francis F. Coppola; Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan; The Hunger, de Tony Scott; Vampires, de John Carpenter; Near Dark, de Kathrin Bigelow
Sim, como dizia atrás em relação a Twilight, os vampiros bons de Twilight são o género de namorado que todas as raparigas gostariam de apresentar aos pais. Estamos muito para além do carácter perverso sexual dos antigos vampiros, do Bram Stoker, por exemplo, em que o vampiro era em parte uma metáfora para os perigos de uma sexualidade exuberante, que reflectia os costumes moralistas da época. Não sei contudo se isto significa que a nossa época é menos moralista ou se mais, pois esta limpeza dos vampiros tira-lhes também o charme da transgressão e, diga-se de passagem, são muito assexuados. Não há nada de mais puritano que aquela relação asséptica entre Edward e Bella.
Garras: O que há de tão peculiar neste mito, para que possa - após tantos sécs. - continuar a atrair mesmo o imaginário mais contemporâneo?
Acho que passa muito pela necessidade que as pessoas têm do sobrenatural. A realidade nunca parece satisfazer -- pelo menos na ficção -- as aspirações do comuns mortais, e a imortalidade, invencibilidade, ausência da doença, do envelhecimento, e conquista da morte, é apelativo desde tempos primordiais e nas suas transfigurações modernas continuará sempre a sê-lo.
Para saber mais: http://oteudestinoestamarcado.tvi.pt/
Alguns filmes de referência: Nosferatu, de D.W.Murnau; Dracula, de Tod Browning; Vampyr, de Carl Dreyer; Bram Stoker´s Dracula de Francis F. Coppola; Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan; The Hunger, de Tony Scott; Vampires, de John Carpenter; Near Dark, de Kathrin Bigelow
O paradoxo da pobreza e da exclusão social versus o grande desenvolvimento científico
A pobreza é uma realidade. Ninguém que se considere consciente o pode ignorar. No entanto, para muitos, isto representa uma profunda contradição dado que o mundo actual goza não só de um considerável nível de riqueza como é tecnologicamente mais evoluído. Na verdade, o real valor da tecnologia é, em termos económicos, reduzir o custo necessário para produzir algo (comida, mecânica, etc.) que por sua vez gera riqueza. Isto significa que quanto maior a capacidade tecnológica, maior a riqueza. Um exemplo especialmente flagrante é a comparação entre países ditos desenvolvidos e países ditos subdesenvolvidos, em que a população dos países subdesenvolvidos (com a excepção dos países produtores de petróleo) é mais pobre, se bem que a existência de pobreza em países desenvolvidos seja mais difícil de explicar.
De acordo com John Rawls o mundo mais justo é o mundo em que a pobreza é mais escassa. Para o atingir, existem essencialmente duas vertentes: o equilíbrio de riqueza entre os cidadãos de um país e a quantidade de riqueza total de um país. A maximização destes dois conceitos corresponde em termos políticos, de uma forma grosseira, respectivamente ao comunismo e ao capitalismo. O problema é que nenhuma vertente é superior à outra, pois um grande equilíbrio de riqueza entre cidadãos pode significar que todos são pobres, e uma grande quantidade de riqueza pode significar que uns são muito pobres. Em suma o problema de pobreza é mais complexo do que possa parecer, e à primeira vista o desenvolvimento científico ou tecnológico não é responsável pela existência ou não existência de pobreza, pois só afecta a quantidade de riqueza. Mas a ciência não é assim tão isenta.
O mundo da ciência é, para muitos, estranho. De facto, os únicos que o entendem realmente são os cientistas, mas pode ser entendido como um modelo de funcionamento do mundo conhecido. A noção de cientismo, i.e. de que a ciência vai responder a tudo, é até um (ultrapassado) conceito filosófico, o que não deixa de ser irónico. O objectivo da ciência é o de aumentar o conhecimento a partir do conhecimento existente, de expandir o mundo conhecido. É a abordagem que mais produz resultados práticos, que gera mais riqueza e cujo critério de validade é mais sofisticado, tendo base tanto em experimentação (observação controlada) e em teoria (lógica). Por outro lado, isto torna a ciência em algo que vale por si, que por natureza é independente de valores morais ou vontades. Mas quem usa a ciência é o Homem, e o Homem é tanto capaz de actos bondosos como de terríveis crimes. E a ciência, sob a forma de tecnologia, amplia muito o poder do Homem. Mas, passará a solução por restringir a investigação em certas áreas do saber?
Joseph Mengele, por exemplo, foi um indivíduo que durante a 2ºGuerra Mundial, conduziu experiências em prisioneiros de campos de concentração que podem ser melhor descritas como tortura minuciosamente registada. Será legítimo usar os dados obtidos para fins médicos, sabendo a proveniência destes dados?
O problema anterior é controverso, mas existe outro problema que provavelmente nos interessará mais: o sistema de patentes. Hoje em dia, para produzir algo industrialmente é necessário uma patente. Este conceito ocidental visa recompensar a investigação e invenção, seja através da criação de uma empresa para vender as aplicações, seja através da venda da patente (autorização exclusiva de produção) a uma empresa interessada. No entanto, isto não só implica que alguma tecnologia potencialmente benéfica não seja acessível a grande parte da população, como também incentiva ao egoísmo que é o ter por objectivo maximizar o rendimento obtido. E podemos, não, devemos resolver este problema o mais rapidamente possível a fim de evitar a exploração de muitos por outros, o que desequilibra a distribuição de riqueza e que, por sua vez potencia a divisão e exclusão social.
Poder-se-iam minimizar estes problemas, procedendo da seguinte forma:
1. Rescindir o estatuto de exclusividade da patente, se bem que naturalmente quem a não possui deve pagar um valor a estipular para o possuidor da patente para produzir, de forma a recompensar a investigação mas também a generalizar (e possivelmente, devido à lógica de mercado, recompensar mais generosamente).
2. Reduzir o número de escalas da hierarquia empresarial, de forma a distribuir mais equitativamente a riqueza, sendo que esta medida também requer um ensino obrigatório mais exigente.
3. Reorganizar a estrutura empresarial de forma que existam empresas especializadas em produção e empresas especializadas em investigação, sendo que esta medida depende da aceitação da primeira para ser verdadeiramente eficaz. Luís Gonçalo Simões 11º 5
De acordo com John Rawls o mundo mais justo é o mundo em que a pobreza é mais escassa. Para o atingir, existem essencialmente duas vertentes: o equilíbrio de riqueza entre os cidadãos de um país e a quantidade de riqueza total de um país. A maximização destes dois conceitos corresponde em termos políticos, de uma forma grosseira, respectivamente ao comunismo e ao capitalismo. O problema é que nenhuma vertente é superior à outra, pois um grande equilíbrio de riqueza entre cidadãos pode significar que todos são pobres, e uma grande quantidade de riqueza pode significar que uns são muito pobres. Em suma o problema de pobreza é mais complexo do que possa parecer, e à primeira vista o desenvolvimento científico ou tecnológico não é responsável pela existência ou não existência de pobreza, pois só afecta a quantidade de riqueza. Mas a ciência não é assim tão isenta.
O mundo da ciência é, para muitos, estranho. De facto, os únicos que o entendem realmente são os cientistas, mas pode ser entendido como um modelo de funcionamento do mundo conhecido. A noção de cientismo, i.e. de que a ciência vai responder a tudo, é até um (ultrapassado) conceito filosófico, o que não deixa de ser irónico. O objectivo da ciência é o de aumentar o conhecimento a partir do conhecimento existente, de expandir o mundo conhecido. É a abordagem que mais produz resultados práticos, que gera mais riqueza e cujo critério de validade é mais sofisticado, tendo base tanto em experimentação (observação controlada) e em teoria (lógica). Por outro lado, isto torna a ciência em algo que vale por si, que por natureza é independente de valores morais ou vontades. Mas quem usa a ciência é o Homem, e o Homem é tanto capaz de actos bondosos como de terríveis crimes. E a ciência, sob a forma de tecnologia, amplia muito o poder do Homem. Mas, passará a solução por restringir a investigação em certas áreas do saber?
Joseph Mengele, por exemplo, foi um indivíduo que durante a 2ºGuerra Mundial, conduziu experiências em prisioneiros de campos de concentração que podem ser melhor descritas como tortura minuciosamente registada. Será legítimo usar os dados obtidos para fins médicos, sabendo a proveniência destes dados?
O problema anterior é controverso, mas existe outro problema que provavelmente nos interessará mais: o sistema de patentes. Hoje em dia, para produzir algo industrialmente é necessário uma patente. Este conceito ocidental visa recompensar a investigação e invenção, seja através da criação de uma empresa para vender as aplicações, seja através da venda da patente (autorização exclusiva de produção) a uma empresa interessada. No entanto, isto não só implica que alguma tecnologia potencialmente benéfica não seja acessível a grande parte da população, como também incentiva ao egoísmo que é o ter por objectivo maximizar o rendimento obtido. E podemos, não, devemos resolver este problema o mais rapidamente possível a fim de evitar a exploração de muitos por outros, o que desequilibra a distribuição de riqueza e que, por sua vez potencia a divisão e exclusão social.
Poder-se-iam minimizar estes problemas, procedendo da seguinte forma:
1. Rescindir o estatuto de exclusividade da patente, se bem que naturalmente quem a não possui deve pagar um valor a estipular para o possuidor da patente para produzir, de forma a recompensar a investigação mas também a generalizar (e possivelmente, devido à lógica de mercado, recompensar mais generosamente).
2. Reduzir o número de escalas da hierarquia empresarial, de forma a distribuir mais equitativamente a riqueza, sendo que esta medida também requer um ensino obrigatório mais exigente.
3. Reorganizar a estrutura empresarial de forma que existam empresas especializadas em produção e empresas especializadas em investigação, sendo que esta medida depende da aceitação da primeira para ser verdadeiramente eficaz. Luís Gonçalo Simões 11º 5