quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

2010 - ANO EUROPEU CONTRA A POBREZA E A EXCLUSÃO SOCIAL


Olho em volta, para lá da minha janela, para lá do horizonte não muito longínquo das minhas lágrimas e vejo o mundo na sua singular pequenez. O meu chá tranquilo vai arrefecendo na fria perplexidade em que mergulhei: Port-au-Prince, Haiti, 12 de Janeiro de 2010.
A Natureza possui uma racionalidade cega, caso contrário manifestar-se-ia de mansinho para não assistir depois a uma cascata de sofrimento e de horror.
O homem, esse conhece a dor e conhece também meios para a evitar ou diminuir. A generosidade humana existe, mas solta-se frequentemente, apenas, quando a desgraça acontece. Haiti, 12 de Janeiro. O mundo enche-se de piedade.
Amanhã o país vai levantar-se com a ajuda do mundo inteiro. Os haitianos voltarão a viver com menos de um euro por dia, voltarão a não ter meios para responder a uma catástrofe futura, voltarão a não ter meios suficientes para tratar as doenças que os afligem e eu voltarei a olhar perplexa pela minha janela para a pequenez do mundo. O meu chá, esse, arrefecerá de todo.
O meu espírito, esse também, soçobra numa inefável dor ou talvez vertigem, pois o paradoxo torna-se por demais insidioso: o conhecimento, a tecnologia, a sabedoria, a ética, a filosofia, a generosidade e a compaixão; porém a pobreza, a ignorância, a vacuidade da vida, a dor, a dor profunda, os caminhos que não permitem andar,..
Apesar da ciência o eixo da pobreza que atravessa a história mantém-se firme.
Os pobres indigentes de todos os recantos do mundo, de todos os recantos da História continuam a arrastar-se pelo tempo, no Haiti, em África, na Índia e ali, do lado de lá da minha janela.
Mas se houvesse alguns gestos, algumas decisões, umas quantas vontades: se acabassem as guerras, se se diminuíssem as agressões ao ambiente, se se encontrassem alternativas energéticas, se se impusessem regras ao consumismo desenfreado, se se considerasse que a educação é um bem inestimável, embora com consequências mediatas, se nos respeitássemos como seres iguais no valor e na dignidade e diferentes na individualidade, o mundo seria melhor. Como se faz isto? Talvez fazendo.
No futuro, que ninguém tenha de pedir, por nós, perdão à humanidade!

Maria da Graça Pratas