terça-feira, 17 de novembro de 2009

… UM FALCÃO NO OLHAR…!

CineFALCO
Sessões à 4ª feira das 14.30h às 17h na Sala MultiUsos

«Interrogar o cinema, encará-lo na sua totalidade humana, é o que ambicionamos com este nosso trabalho.» ( E.MORIN,in "O cinema ou o homem imaginário")

Falar da nossa relação com o cinema é problematizar a nossa condição de espectadores, ou seja, o modo como o nosso olhar é transformado, porque condicionado pelas particulares condições de produção e recepção do “objecto cinematográfico”, o filme.
Desde cedo considerado como ”fábrica de imagens e sonhos”, o cinema transmite mais do que qualquer arte, a “impressão da realidade”, e esta surge-nos tanto mais forte quanto mais nos esquecermos de que o cinema é um modo particular de olhar, e de fixar este olhar.
O CineFALCO propõe um roteiro de sensibilização para uma “introdução à cinefilia”, isto é, para uma crítica do olhar no sentido em que E.P.Coelho nos diz que, de uma crítica de cinema devemos esperar, "que o crítico nos leve a ver num filme um certo número de aspectos que nos tinham passado despercebidos, e nos obrigue a repensar a nossa própria experiência de espectador;que seja capaz de nos situar o filme no espaço contemporâneo da história, da política, da arte, o pensamento; que os críticos afirmem as suas paixões e participem teoricamente no próprio processo de criação artística, em suma, que pensem e nos ajudem a pensar."
Do que se fala pois, quando se fala de cinema, de que cinema se fala, e que cinema fica por falar, eis o núcleo deste projecto. Se, como alertava Berkeley, toda a gente tem opiniões, mas poucos são os que pensam, o nosso objectivo é o de entender e dar mais amplo sentido à máxima de Gilles Deleuze, o cinema é o pensamento em movimento.

Cineclube da Esc. Sec. José Falcão


Objectivos

Perspectivar um olhar panorâmico sobre os primeiros cem anos da história do cinema.
Caracterizar os géneros cinematográficos mais importantes durante cada período
Conhecer as figuras e as obras mais representativas.
Enquadrar cada um dos momentos, no âmbito dos acontecimentos políticos, sociais e culturais, mais marcantes de cada período cinematográfico.

Metodologia a Utilizar
Sessões com uma duração média de duas horas e meia onde se procederá:

· À introdução e caracterização de cada género cinematográfico/filme/realizador no respectivo período
· À distribuição de material de apoio informativo e crítico para cada sessão
· À projecção em suporte DVD das obras seleccionadas
· Ao comentário/debate final sobre os conteúdos apresentados em cada sessão
«Entramos nas trevas de uma gruta artificial... até que sobre a tela branca uma música dissolva as sombras. Saímos e falamos das qualidades e dos defeitos dum filme. Estranha evidência do quotidiano. Reside nesta evidência, o primeiro mistério do cinema. O que é de espantar é que isso não nos espante.
É uma evidência que “nos entra pelos olhos dentro.” É uma evidência que nos cega.» (E.Morin)

«Pelos meus 17/18 anos, comecei a ler a revista Vértice. Nessas páginas encontrei os meus primeiros mestres, de mário dionísio a óscar lopes. Mas um dia deparei com um longo texto sobre o filme “Um Lugar ao Sol” de George Stevens, que me tinha levado às nuvens. Se o filme merecia tanto espaço ao crítico, não era por causa de Stevens ou de Montgomery Clift, Elizabeth Taylor ou Shelley Winters, que encarnavam o trio de protagonistas. Iluminando o sombrio quarto em que o jovem clift sonhava com um “lugar ao sol”, viam-se néons publicitando o nome Vickers, mostrando que era esse o nome (e os milhões a ele associáveis) muito mais do que a rapariga que o usava (Elizabeth Taylor) quem motivava a paixão do rapaz. Quando este, pela primeira vez, pensara em matar a sua pobre colega como única forma de chegar a E.Taylor, ouvia-se na banda sonora o latir dos cães. E, logo no início do filme, quando M.Clift olhava para o gigantesco poster que anunciava fatos de banho da firma do tio, ouvia-se a sirene de um carro da polícia, assim se ligando o desejo à transgressão. Ora eu tinha visto o filme duas ou três vezes e não tinha visto nada disso. Pensei que o crítico delirava e voltei ao Monumental para tirar teimas. Tinha ele toda a razão, não tinha eu nenhuma. Havia mesmo o anúncio, havia mesmo os cães, havia mesmo o carro da polícia. Na minha vida foi uma revolução. Cinco anos, vira filmes e não vira nada. Tudo estava por descobrir. O mundo que eu julgara de apreensão imediata era um mundo cifrado e, se queria aceder aos seus segredos, tinha de tratar, com urgência, da iniciação. Aos críticos, devo essa difícil mas magnífica caminhada que me fez descobrir que de todas as coisas boas da vida é preciso aprender a gostar. Aprender p/ gostar. e que me tenham confirmado o que pressentia, muito antes, noutras dimensões: que é preciso que exista”o gosto” p/ haver ”o conhecimento” e que se começa sempre por gostar do que não se percebe até se perceber que se gostava porque já se percebia.» (Bénard da Costa)